Rodovia Fernão Dias/ BR-381, o trecho da morte.

Rodovia Fernão Dias/ BR-381, o trecho da morte.

Os traumas após roubos e a perda do irmão em desastre ocorrido em 2019, no trecho mineiro da Rodovia Fernão Dias/ BR-381, fazem do transporte de cargas por essa estrada um teste de fé para o caminhoneiro gaúcho Daivison Liberato, de 38 anos. “Se fosse pela vontade da família, já tinha parado. Pensei várias vezes em desistir da estrada, mas ser caminhoneiro corre no meu sangue. Só que a Fernão Dias é o pesadelo da gente. Muitos bandidos no Sul de Minas e, mesmo duplicada, a estrada precisava de mais áreas de escape”, afirma o motorista de Gravataí.
Relatos como o de Daivison se multiplicam pela estrada que é uma das mais importantes do país. Transportar cargas entre Minas Gerais e a capital paulista em vias como a rodovia BR-381 (Fernão Dias) expõe caminhoneiros ao segundo maior índice de acidentes, furtos e roubos do Brasil. O trajeto só perde para as ligações entre Rio de Janeiro e São Paulo, em sua maioria pela BR-116 (Via Dutra).
Os dados são de uma pesquisa nacional realizada pela plataforma de aproximação de motoristas e cargas FreteBras, considerada a maior da América do Sul. O estudo analisou 130 mil fretes, entre 2018 e 2020. Segundo os dados, nem todos abertos para a reportagem, a Região Sudeste detém 40% dos fretes e sinistros analisados, o que permitiu uma avaliação mais detalhada dos trajetos dentro da região. As rotas consideradas de menor risco são as realizadas dentro do estado de São Paulo.
A lembrança das agressões físicas e violência psicológica sofridas no último roubo na Fernão Dias, no ano passado, tiraram o caminhoneiro Daivison por meses da atividade profissional. “Estava puxando (transportando) pneus de São Paulo para Recife. Na altura de Estiva (Sul de Minas), um carro com quatro pessoas armadas me parou na subida. Me arrancaram do caminhão, me jogaram no porta-malas de um carro e ficaram por oito horas me aterrorizando, perguntando entre eles o que fariam comigo. Achei que seria meu fim. Fizeram isso até carregar todo o caminhão deles com a minha carga”, recorda-se o gaúcho.
Um ano antes, ele tinha perdido o irmão, também caminhoneiro, em um desastre na Serra de Igarapé. “Tinha um acidente e o trânsito estava todo parado. Não tinha marcação, nem alerta. Para não passar por cima dos outros, meu irmão jogou a carreta no barranco. Morreu ali mesmo, na estrada”, se lembra Daivison.
No Sul de Minas, os relatos são de furtos de peças, além de cargas. “Tudo de ruim, para mim, acontece quando preciso parar no Sul de Minas. Lá é onde mais nos furtam. Nos postos, nas paradas de mecânica, no meio da estrada. Roubam com sol quente. É impressionante. Levam os faróis do caminhão, os pescadores do tanque, até os reservas (pneus sobressalentes). O único lugar que a gente tem sossego para dormir é em Oliveira. Paga R$ 20 e pode dormir mais seguro”, conta o caminhoneiro baiano Lourivandro Pereira Melo, de 32.
Nas proximidades de São Paulo, as histórias de violência se repetem nos postos que atendem caminhoneiros na Fernão Dias. “A gente fica muito impressionado com as histórias de colegas contando de violência. Tomo ainda mais cuidado, porque levo a minha mulher e a minha filha. Vou trocando informações pelos grupos de WhatsApp e ficando esperto. Perto de Atibaia (SP), nem arrisco parar. Falta mais polícia”, afirma o condutor cearense, João Batista Moreira, de 49, de Tabuleiro do Norte.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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